4. QUAIS SÃO OS LIMITES ENTRE O ESPAÇO DO PÚBLICO E DO ARTISTA?
Os equipamentos culturais são considerados espaços públicos relacionais, que promovem variadas formas de sociabilidade e mediações. Contudo, é de ter em conta a dimensão conflitual do espaço público: um espaço de tensões e de relações do poder simbólico, onde condições de existência diferentes produzem hábitos diferentes. Dada essa diversidade constata-se que o público não é um mero aglomerado de pessoas que ocupam um lugar em determinada ocasião, ou que é quantificado pelo seu somatório numérico.
Para discutir esta questão recebemos Natália Vieira e Matilde Real, duas profissionais com processos díspares na área do teatro, mas com um comum trabalho com a comunidade.
Natália Vieira, especializada em Teatro e Educação, explica-nos que o teatro foi uma escolha consciente e que esteve sempre presente na sua vida. A educação surgiu no seu caminho, dando a possibilidade de interligar estas duas práticas. Para si, o teatro, o teatro e a educação, o teatro e a comunidade acabam por estar todos ligados. É necessário saber fazer para poder partilhar saberes. “Não bastava saber teatro, ou saber teatro na educação”.
Matilde Real, atriz inserida no projeto Lavrar o Mar - um projeto artístico e cultural no alto da serra e na costa vicentina -, teve o seu primeiro contacto com o teatro comunitário através de um projeto com um grupo de crianças do Bairro da Cova da Moura. Este processo não tem que ver com o ato de ajudar alguém, por caridade ou por questões sociais, mas sim por “criar um espaço para a confluência de diferentes universos, em que toda a gente sai transformada”, num ambiente de troca e partilha mútua, fazendo nascer a experiência estética. O teatro comunitário surgiu na sua vida pela “beleza que se cria, e não pela preocupação puramente social”.
No teatro comunitário é possível diluir o limite “através de um mergulho do dia-a-dia, nas experiências que os participantes trazem, juntar a vida ao teatro. A conexão é o mais importante e, por isso, o limite geográfico deixa de existir”.
Quais são os limites entre o espaço do público e do artista? A transformação numa conexão? Ouvir o outro, criar encontros e apresentar outras linguagens artísticas – “Levar a ver, levar a experimentar”.