1. O QUE É A MEDIAÇÃO E PARA QUE SERVE?
Perante as alterações do papel e do lugar dos artistas e das artes na sociedade atual, assim como das relações dos públicos com as diversas manifestações artísticas, houve a necessidade de acolher novos profissionais para desenvolver uma nova função – a mediação artística e cultural. A premissa desta conversa é explicitar o que é mediação cultural e quais as funções dos profissionais que a colocam em prática.
As convidadas deste episódio foram Laurence Vohlgemuth, professora adjunta na Escola Superior de Educação de Lisboa e líder do grupo de trabalho que criou, em 2016, a Licenciatura em Mediação Artística e Cultural, e Teresa Duarte Martinho, investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e especializada no estudo do setor cultural.
Em relação à afirmação da mediação artística e cultural como campo profissional, foi retirado desta conversa que há mais de três décadas que a educação e a cultura se têm vindo a aproximar, alterando assim o lugar da cultura na nossa sociedade. Deixa de ser apenas um produto para as elites se ocuparem e passa a ser compreendida como um pilar a desenvolver. “(…) Fundamental para uma cidadania plena (…)” e cada vez com uma componente mais educativa e social. Logo, a mediação cultural, “(…) como um conjunto de práticas que atravessam o setor cultural, educacional e social (…)”, ganhou uma maior projeção em Portugal. Isto torna-se evidente com o aparecimento dos serviços educativos.
As instituições culturais procuram projetar a sua visibilidade nos espaços públicos e melhorar as relações com as comunidades e isso não é assegurado por profissionais de marketing e de comunicação. Os mediadores artísticos e culturais têm capacidades mais adequadas aos novos objetivos das organizações, como por exemplo a “(…) capacidade reflexiva e de flexibilidade, que é a abertura para a diferença e a nossa disponibilidade para conhecer algo que é novo”. Embora seja importante saber discutir a função da arte e da cultura, bem como ter conhecimentos acerca de variadas manifestações artísticas, as competências dos mediadores vão além do conhecimento da História da Arte.
Existem vários profissionais responsáveis pelo trabalho de mediação que “(…) são formados em História da Arte, por exemplo, que é de facto válido”, contudo, a mediação cultural “(…) é bem mais do que democratização da cultura, que tem algumas ideias que podem aniquilar outras expressões culturais e artísticas”.
É importante o mediador comunicar e relacionar-se com o outro sem preconceito, “com um propósito de descoberta e de colocar a arte e a cultura, não como um elemento de distinção e de superiorização de uns aos outros, mas de partilha (…)”. “(…) Mediar é estar no centro de uma multiplicidade de outras posições. O mediador cultural vai tentar fazer com que essas outras posições comuniquem e se construam a elas próprias através do diálogo”. Estas competências e ideias foram essenciais na criação da licenciatura em Mediação Artística e Cultural, da Escola Superior de Educação de Lisboa, um curso com um currículo abrangente e que permite não só formar profissionais, mas indivíduos que refletem sobre as suas próprias identidades.
Para finalizar, os profissionais de mediação artística e cultural são “(..) necessários numa sociedade que define o lugar da cultura e da educação”, logo, esta área justifica um investimento.