2. COMO SE PROGRAMA NOS DIAS DE HOJE?
3. ARTE INCLUSIVA: ESTAREMOS TODOS NO MESMO BARCO?
Em Portugal, nos últimos anos, tem sido dada uma especial atenção ao acesso das pessoas com deficiência à oferta cultural. Vários, mais ainda poucos, espaços culturais e artistas procuram criar condições de acesso para que pessoas com necessidades específicas, assim como os seus familiares e amigos, possam usufruir desta oferta. Um outro aspeto, com menor expressão em Portugal, é aquele que procura incluir pessoas com deficiência nos espaços culturais ou programá-las como artistas. No entanto, quando a inclusão e a diversidade são vistas de uma forma mais holística, surgem múltiplas e diversas oportunidades criativas.
Para discutir esta questão, recebemos Marco Paiva e Maria Vlachou. A Terra Amarela e o Acesso Cultura encontram-se no centro da nossa capital, mas o seu trabalho vai além-fronteiras.
A “Inclusão, que é uma troca de ideias, onde dou o que posso dar e também recebo”, sempre fizeram parte da vida profissional deste ator e encenador (Marco Paiva). O seu projeto, Terra Amarela, nasce pela necessidade de desenvolver uma estrutura de criação artística de forma a projetar o trabalho desenvolvido. Simultaneamente, quer “aproximar-nos da ideia de teatro enquanto uma arte global que inclui a humanidade, com toda a complexidade que ela envolve, e as pessoas com as suas diversidades”, sendo uma forma de intervenção social, política, artística e pedagógica, através de “um processo demoroso, mas que mexe com uma estrutura que é muito pesada”.
Já do outro lado, o projeto Acesso Cultura, uma associação cultural sem fins lucrativos, foca-se na promoção do acesso cultural e centraliza o seu público nos profissionais da área. Pelo olhar de Maria Vlachou, “algumas instituições associavam aquilo que é o acesso e acessibilidade a um investimento financeiro que não tinham”, todavia, nos dias de hoje “a arquitetura da sociedade está, pouco a pouco, muito lentamente, a criar condições para que o entendimento do que é um ser humano não se limite àquilo que é a normativa”, havendo, por isso, “o dever de começarmos a mudar a nossa própria mentalidade”.
“Trabalhar para todos é uma utopia, das boas, mas uma utopia que nos faz caminhar para outro tipo de trabalhos que temos de fazer e para os quais estamos a caminhar”. A fruição cultural tem de estar destinada a um grupo muito específico de pessoas, porque não desmontar este para que se encontrem as ligações com quem à partida não se relaciona com isto? Será que esse é um dos caminhos da Mediação Artística e Cultural? – “Somos todos mediadores, temos todos uma responsabilidade na criação de relações com a arte e a cultura!”.